Édipo - Messias ou Complexo
Ano: 2014
É sabido de todos nós como é fácil estar em paz com os homens; basta fazer toda sorte de concessões. Goethe, em sua obra imortal “Fausto”, mostrou-nos como os homens são capazes de” vender a alma ao diabo”, para conseguir sucesso, dinheiro e poder. Talvez não haja fraqueza humana maior do que a vaidade, e ela acaba se tornando seu cadafalso. Vender a alma não é senão aquilo que está expresso no famoso jargão “tudo pelo social”. Abrimos mão de nós mesmos, para sermos aceitos e conseguirmos o que desejamos, sendo esta a mais grave falsificação do ser. Já estar em paz com Deus (ou com os deuses, como diziam os antigos), é bem mais difícil, uma vez que requer um compromisso inalienável com a ética e com a verdade. A coragem de morrer em defesa do único mandamento da vida - nascer, viver e morrer com dignidade e honra - foi brilhantemente abordada na obra de Sófocles, “Antígona”, onde ela enfrenta esta questão. Na peça, ela deve enfrentar a proibição do rei Creonte em enterrar seu irmão, que fora declarado inimigo da cidade; quem o fizesse seria condenado a morrer apedrejado. Antígona enfrenta a ordem real e enterra o irmão, mesmo assim. Quando é presa, é levada ao rei que lhe pergunta: “Como ousaste desobedecer a um edito real?” No que ela respondeu: “Não lhe pertencem as leis da vida e da morte; o direito de nascer, viver e morrer com dignidade e honra é divino e universal. Antecede os reis e os homens. Não é de hoje, não é de ontem que essas leis vigem, sem que ninguém saiba de sua origem. São cósmicas e pertencem à noite dos tempos”. “E se eu tiver que escolher entre estar em paz com os homens e as suas leis, e estar em paz com os deuses e suas determinações, mesmo que isso me custe a vida, prefiro estar em paz com os deuses e a impávida verdade e dignidade.”. E assim, Antígona enfrentou a morte, com uma coragem de ser que nos faz inveja. Esta é a verdadeira força do heróico feminino, que está disposto a morrer para preservar a dignidade de tudo o que a vida representa, inclusive o ato sagrado de devolver à terra um morto. Vemos ainda em sua outra resposta a força da heroína: “Não me cabe julgar os atos em vida de meu irmão; a mim cabe enterrá-lo com a dignidade exigida pelos deuses. E não será você, com todos os poderes reais, que poderá ter a presunção de estar acima deles. Nasci para o amor e para cumprir as leis da vida e da morte. Não me cabe julgar os atos de meu irmão, apenas devolvê-lo aos deuses. Serão eles que o julgarão”. Este pequeno exemplo de dignidade e honra apenas mostra-nos como a modernidade afastou-se dos princípios da vida e como esqueceu de honrá-los. Que dirá então em celebrá-la? A alegria de viver, e gastar tempo glorificando-a estão quase esquecidos; não temos mais a menor idéia do que seja gastar nosso tempo eroticamente, ou seja, na verdadeira concepção arcaica de viver com alegria e paixão.
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